Belarmino Elqueta R.
Alejandro Chelén R.
O que ficou da Colonização espanhola
Alejandro Chelén R.
O que ficou da Colonização espanhola
Para os
autores, o Chile, desde a sua independência da Espanha, como de resto toda a
América Latina, ficou na órbita econômica da metrópole de então, a Inglaterra.
Neste breve
relato, não há muitas remissões ou relações de forma direta com a herança
colonial espanhola. Entretanto, os autores, vez por outra, nos remetem a
referida herança. Nesse sentido, é interessante frisar que o “caldo cultural”
que permeia a sociedade chilena está intimamente relacionado com a cultura da
dominação colonial espanhola.
A meu ver,
quando os autores colocam que o sistema mono- produtor é uma herança do modelo
imperialista, fica claro que há uma relação direta com o período colonial.
As referências
feitas ao longo do texto ao sistema de propriedade da terra, também, tem, de
forma implícita, relação direta a herança colonial.
Os autores fazem
uma observação sobre o caráter exageradamente normativo, no sentido estrito de
norma, dos ideólogos da Revolução de 1810 e autores da Constituição chilena:
havia muita preocupação com a forma e não com o conteúdo; em outras palavras,
ficava evidente a preocupação em elaborar uma boa constituição, mas não havia
empenho em dar condição ao povo de exigir o seu cumprimento. Dessa forma, isso
denotava claramente, o caráter colonial, ou seja, importava-se com ideais sem
reais condições de operacionalizá-los. A cultura latina é pródiga nesse
detalhe, ou seja, haja vista o “jeitinho brasileiro”, onde se cria violência
para vender segurança.
Em relação aos
partidos políticos, o Partido Conservador mantinha, no século passado, uma
disciplina baseada no período colonial de autocrítica. Já o Partido Radical, fundado
em 1813, frisa que tinha seus ideais baseado no racionalismo
europeu. Em outras palavras, o Partido Radical reivindicava, desde o seu
surgimento, a separação entre Igreja e Estado, ensino laico.
O
Neocolonialismo
O limite, do
ponto de vista histórico, segundo os autores, entre o colonialismo e o
neocolonialismo vai ser a independência do Chile em relação à metrópole
espanhola. Apesar de, cronologicamente, à época da independência chilena ser
ainda uma época do colonialismo, a relação com a Inglaterra, a meu ver, vai se
dar dentro do contexto do neocolonialismo. Numa palavra, embora não dependesse
diretamente da Inglaterra, a relação do Chile com ela era de vassalagem.
O proeminência
do neocolonialismo inglês vai até a Primeira Guerra Mundial. Nessa época, vai
se dar um limite, do ponto de vista econômico, entre o neocolonialismo inglês e
o neocolonialismo americano. A partir de então, a influência americana será a
tônica na história chilena.
Nos pós-Segunda
Guerra, devido a divisão do mundo em dois blocos, soviético e americano, o Chile alinha-se com o chamado
“mundo livre” capitaneado pelos Estados Unidos da América.
Segundo os
autores, em conformidade com a “Aliança
para o Progresso”, o Chile experimentou uma reforma agrária que
favorecia mais o latifundiário do que o camponês. Resumindo, pagava-se muito
dinheiro pela desapropriação de terras, já que o parcelamento do latifúndio era
de forma voluntária.
A política
desenvolvimentista empreendida no governo de Eduardo Frei, 1964-70, estava em
consonância com os EUA. Havia uma combinação do capital americano com o capital
nacional. Através da política econômica de Frei, o Estado compraria 51% das
ações das empresas de capital americano na área de produção do cobre. O que
aconteceu, porém, é o que o Estado pagou pelos 51% das ações o valor de 100%
das ações, ou seja, o Estado capitalizou as empresas americanas com o dinheiro
do contribuinte chileno. Assim, o Estado chileno, através do governo de Eduardo
Frei, fez uma espécie de política nacionalista através de um “entreguismo” puro
e simples.
O
neocolonialismo no Chile, até a eleição de Salvador Allende em 1970, tinha sido
tão eficiente que havia retirado em riqueza o dobro do capital investido no
país. Das divisas externas em dólar que entravam no país, cerca de 80% eram
provenientes da exploração da mineração que, graças as negociatas do governo de
Eduardo Frei em 1964, tinha participação de “somente” 49% das ações em mãos do
capital americano, mas estava capitalizados e, em muitos casos, com
administração das empresas em suas mãos.
O “...processo
de concentração monopólica da indústria chilena sobre a base da empresa
estrangeira tem profundas implicações em:
1 – gestão do sistema de produção do país a partir
dos interesses estrangeiros;
2– pagamento de
“royalties” às empresas estrangeiras, ou seja, aos países neocolonialistas;
3 - superexploração do
trabalho;
4 – Centros de decisões no estrangeiro.
Em relação ao sistema partidário, a Democracia Cristã era a representante
“legítima” dos interesses americano no Chile. Para tanto, a sua inserção no
meio operário bem com a vitória nas eleições foi financiado pelos consórcios
monopolistas e a Central de Inteligência Americana, CIA.
As empresas monopolistas americanas tiveram participação ao lado da
burguesia nacional chilena na tentativa de golpe em 1970, visando impedir a
posse de Salvador Allende como presidente da República.
Para os autores, o Chile teve dois golpes entre 1970, com o assassinato
de guerra, René Schneider e de outro oficial, o general Carlos Prats, e 1973, com
o golpe militar que derruba o presidente constitucionalmente eleito Salvador
Allende. Nos dois golpes, ficou demonstrado o envolvimento do imperialismo
neocolonialista norte-americano e da burguesia local, através do planejamento,
financiamento e execução dessa ação.
Como o governo de Allende era voltado para os interesses populares, os
interesses neocolonialistas sentiam-se prejudicados. Dessa forma, não poderiam,
segundo os autores, deixar de apoiar todas as ações que visavam minar aquele
poder.
A coação por todos os meios e, principalmente pelo meio considerado mais
forte, que é o poder econômico, tinha como interesse derrubar um governo
democraticamente eleito. Aliás, isso deixa claro que a democracia era defendida
somente no discurso pelos algozes do governo de Allende.
A propósito, o neocolonialismo norte-americano fazia uma campanha mundial
tentando convencer os demais países de que o governo de Allende era uma
ditadura “marxista”.
No governo de Allende havia liberdade para que a sociedade civil se
manifestasse de acordo com o que assegurava a constituição. É nessa situação
que a conspiração neocolonialista encontra campo fértil para executar os seus planos
de derrubada do poder constituído.
O neocolonialismo é tão forte que até os países neocolonializados o
defende. Por ocasião do golpe de Estado dado pelos militares chilenos, a nação
americana foi a primeira a reconhecer o novo governo seguido da Grã-Bretanha,
França e, vejam só, o Brasil.
(continua)