sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

A ELEIÇÃO DE JK PARA A PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA



No filme de Sílvio Tendler ‘Os Anos JK’, há a presunção de que, talvez, Juscelino Kubitschek estivesse governando Minas Gerais e já pensando na construção de Brasília.

Segundo o historiador Lincoln Penna, o Governador de Pernambuco, Etelvino Lins, parecia ser o candidato ideal para a UDN e parcela do PSD tendo em vista o seu estilo anti-populista. Por isso, o seu nome era respaldado, quase que de imediato, pelas lideranças udenistas, dentre elas, Carlos Lacerda.

Em que pesasse aquele fator, JK vai se tornar o candidato da ala renovadora do Partido Social Democrático (PSD) à Presidência da República. Como as Forças Armadas gostariam de ver um militar, enquanto candidato de união nacional, tentaram, assim, eliminar da disputa o candidato JK.

Contando com a fidelidade de trinta mil homens armados no Estado de Minas, JK resiste à intimidação das forças armadas.

Na campanha presidencial, JK promete uma arrancada desenvolvimentista em sua administração, ou seja, 50 anos de desenvolvimento em 05 anos de governo. Assim, consegue uma vitória, até certo ponto, surpreendente.

As eleições foram consideradas limpas, livres e honestas. JK vence com 36% dos votos, ou seja, sem a maioria absoluta. João Goulart é vitorioso para ocupar a Vice-Presidência da República. Na época, votava-se em separado para vice-presidente.

Para Edgar Carone, “a vitória, como se esperava, foi da coligação populista. JK, com 36% dos votos, representava principalmente os setores da burguesia industrial e financeira e a oligarquia dos Estados mais atrasados, tendo à frente a oligarquia pessedista mineira. A vitória de Goulart devia-se aos votos das classes trabalhadoras e das camadas médias de baixa renda das maiores cidades, além do apoio dos “currais” pessedistas em cada Estado. Juarez Távora, aliado de Getúlio até 1937 e lançado pelo Partido Democrata Cristão, com apoio da UDN, obteve 30% dos votos, seguido do ex-interventor de São Paulo, Adhemar de Barros, chefe do Partido Social Progressista, com 26%. O menos votado foi o integralista Plínio Salgado, de extrema-direita, com 8%".

Ainda segundo Carone, "derrotada, a UDN, ao lado de uma organização direitista, a Cruzada Brasileira Anticomunista, tentou impedir a posse dos eleitos, apelando novamente para as Forças Armadas: “quem tem nas mãos a força para decidir a questão”, segundo Carlos Lacerda. Sua “Banda de Música”, a agressiva ala dos bacharéis udenistas, argumentava mais uma vez que os eleitos, o argumento só era utilizado após os resultados, deveriam ter a maioria absoluta dos votos. Civis e militares antigetulistas incitavam o Governo a não empossar os eleitos, que também eram acusados de ‘criminosos da pior espécie, que é o de enganar o povo com o dinheiro que lhe roubou’, de ter o apoio dos comunistas e de um eleitorado ‘formado pela massa ignorante, sofredora, desiludida’".

Algumas das acusações até são interessantes temas para debates, mas seu sentido político naquele momento era bem claro: justificar o golpe. Como notaram vários historiadores, tratava-se de um comportamento típico de muitos liberais na história do Brasil: derrotados nas eleições, e sem penetração popular, recorriam à intervenção dos militares para “salvar a democracia”.

Devido ao clima de instabilidade provocado pela UDN após a eleição de JK, o General Henrique Teixeira Lott, segundo Penna, prende o Coronel Mamede por desrespeito à ordem democrática devido ao discurso deste no enterro do General Canrobert Pereira da Costa. Lott, então, manda um relatório ao Presidente-interino Carlos Luz, informando-o desse acontecimento nas Forças Armadas. A tomada de posição do Presidente-interino é totalmente contrária ao que Lott pensava, ou seja, não pune o Coronel Mamede e ainda nomeia o General Fiúza de Castro para a pasta da Guerra. Portanto, Lott, nesse caso, estaria demitido e, consequentemente, a tentativa de golpe de Estado em estágio bem avançado. O General Lott não se dá por vencido e surpreende os pretensos golpistas através de uma articulação com o General Odílio Denis em que consegue retomar a Pasta da Guerra e destituir o Presidente-interino da República Carlos Luz. Após esse fato, o General Lott convoca Nereu Ramos, Presidente do Senado, para, também, assumir interinamente a Presidência da República até a posse de JK.

A respeito da atitude de Lott e dos legalistas, Edgard Luiz de Barros coloca que é “... o chamado ‘contragolpe da legalidade’ acionado pelo general Lott, na verdade, um golpe militar que impediu a barbárie exclusivista que a UDN e os conspiradores militares pretendiam implantar em 1955, mas confirmou a inexistência da democracia no Brasil como um valor maior e mais profundo do que a representatividade formal”.

Segundo Edgard, JK assume a presidência em 31 de janeiro de 1956 e rompe um paradigma político, ou seja, age com estilo democrático, coisa até então inexistente na história do país.

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

A ASCENSÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA DE JUSCELINO KUBITSCHEK



A participação na Revolução Constitucionalista foi, a meu ver, fundamental para JK se tornar um grande político. Na ocasião, fizera amizade com um senhor, Benedito Valadares Ribeiro, que o levaria, em breve, para o Palácio da Liberdade. Benedito Valadares, enquanto interventor do Estado Novo, e JK, enquanto chefe da Casa Civil. Também na ocasião, JK conhece Filinto Strubling Müller, futuro chefe da Polícia do Distrito Federal, considerado pela chamada esquerda como um nazista, dado o seu “método” de trabalho, e também Eurico Gaspar Dutra, que se tornaria Presidente da República entre 1946 e 1950.
A propósito da nomeação de JK para a Casa Civil do Palácio da Liberdade, através da amizade com Benedito Valadares e, também, da competência enquanto médico na Revolução de 1932, há, evidentemente, episódios anteriores que demonstram senão um oportunismo, pelo menos uma sagacidade de JK: ao se casar com Sarah Lemos, ele se insere numa família tradicional de Minas Gerais, ou seja, passa-se a existir a união do jovem e talentoso médico, porém sem lastro tradicional, com a “nata” da família mineira; assim, D. Luisa Lemos, sua sogra, intercede junto ao outro genro, que não por acaso, era Gabriel Passos, Secretário Particular do Presidente/Governador do Estado de Minas Gerais Olegário Maciel, para que  JK fosse nomeado para o Hospital Militar; dessa maneira, ele é nomeado e torna-se oficial da Força Pública de Minas Gerais.
A nomeação de JK em 1933, como chefe da Casa Civil do interventor/Governador Benedito Valadares, será o ponto de partida do jovem político. Demonstrando capacidade política, JK serve a um governo que ele próprio, como demonstrou em suas memórias, não se afinava “ideologicamente”, ou seja, um governo produto de intervenção e não dos valores democráticos, aos quais se dizia afinar.
A inserção de JK na chapa oficial do Palácio da Liberdade para a disputa de uma cadeira enquanto deputado federal, que era condição fundamental para um político se eleger, leva-o à primeira vitória eleitoral de sua carreira nas eleições de 1934.
É nessa época que JK retorna à Diamantina enquanto deputado federal eleito e ainda chefe da Casa Civil. Começava-se, ali, o nascimento de um “cacique” político em Diamantina em substituição ao outro “cacique” daquela cidade, que era Olímpio Mourão.
O interessante é que, diretamente, JK nunca disputou uma eleição em Diamantina. Deixava sempre essa tarefa para os seus prepostos.
No período em que estava na Casa Civil, bem como quando após assumir o mandato de deputado federal, JK intermediou muitas obras para Diamantina, prometidas na campanha para a eleição de Joubert Guerra, seu candidato a prefeito em 1936. Antes, em 1930, já havia conseguido a reforma do casario diamantinense que, segundo ele, estava todo em ruína.
Como JK consegue tornar-se “cacique político” em Diamantina? Segundo suas memórias, JK frisa que a forma de fazer política da elite dominante local, onde o povo servia apenas como “massa de manobra”, já não correspondia mais à realidade, principalmente para um político que não fosse oriundo da elite. O que propõe? Propõe um meio-termo a guisa de sua própria formação enquanto ser. Estabeleceu um corpo-a-corpo, em 1936, na campanha para prefeito que deixou a elite local desconcertada. Isso não era costume na época, já que o voto era de “cabresto”, ou seja, votava-se em quem o patrão determinasse.
As obras prometidas por JK, logo se tornaram realidade e fortaleceram a imagem dele em Diamantina. Como as obras beneficiavam a todos na cidade, independentemente se era a elite ou o povão, JK demonstrou uma grande capacidade de manobra. Noutras palavras, agindo assim, ele anulou a elite recalcitrante e passou a ter uma influência cada vez mais forte naquela cidade.
Embora afirmasse o caráter apenas humanitário de sua formação médica, não foi o que aconteceu na periferia de Belo Horizonte e nem nas áreas pobres de Diamantina. JK utilizava de sua formação médica para ganhar a simpatia das populações humildes. Dessa forma, atuava mais como um político-médico do que simplesmente como um médico. Portanto, o caráter político de sua atuação, enquanto médico, era no sentido paternalista e clientelista e não no sentido de trabalhar para que a medicina chegasse a todos.
JK é empossado como deputado federal em 1936 e já em 1937 perde o seu mandato devido à instauração do Estado Novo por Getúlio Vargas. Percebendo a força que o chefe do Estado Novo possuía, JK recolhe-se à vida privada enquanto médico. Entretanto, à posteriori, em suas memórias, não lhe perdoava pelo estilo ditatorial de governar o país. Mas memórias são memórias. Em 1940, o interventor da ditadura Varguista, em Minas, Benedito Valadares, o convida para o cargo de prefeito de Belo Horizonte. JK aceita o convite e é nomeado prefeito, cargo que ocupará até 1945.
A Prefeitura de Belo Horizonte representava o primeiro cargo executivo com amplas margens de manobras para JK. O estilo “megalomaníaco” afirmado pelo entrevistado Otto, engenheiro e amigo dele lá em Diamantina, será consubstanciado na construção de um imenso cartão de visita de Belo Horizonte, que é a região da Pampulha.
Se aquela região tornou-se um cartão de visita de Belo Horizonte, tornara-se, também, um objeto promocional do político JK. Dessa maneira, a eleição novamente para deputado em 1946 e a eleição para governador em 1950 são consequências dessas obras realizadas por JK.
Quando Governador de Minas, JK implementou um conjunto de obras no Estado que o levou a se tornar referência nacional: abertura e pavimentação de novas estradas bem como as de muitas já existentes; fortalecimento de empresas mineiras, principalmente as de construções pesadas, entre elas, a Mendes Júnior e a Andrade Gutierrez; construção de usinas hidrelétricas... Ou seja, o binômio transporte e energia.
O estilo pessoal, sem rancor, sem revanchismo, sempre com um sorriso no rosto e o estilo político como tocador de obras grandiosas, diplomático... conferiram à JK uma aura de simpatia que transcendeu em muito as fronteiras do Estado.
A articulação bem como a vitória para a Presidência da República em 1956 será o próximo passo desse mineiro de Diamantina.

Luiz Fernando da Silva

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

O HOMEM JK



Em duas entrevistas que tive acesso, feitas por uma moradora de Diamantina, em 1995, relacionadas a Juscelino Kubitschek de Oliveira - 1902/1976 -  e à cidade de Diamantina, com Otto Paulino e Walmy Lessa, contemporâneos e amigos dele, pude captar melhor como era o homem JK. É bom salientar que não sei sobre o atual paradeiro dos dois entrevistados. Assim, vou me ater as partes das entrevistas como feitas à época.
Para entender melhor  as colocações dos dois entrevistados, é bom que se diga que Otto Paulino é engenheiro geológico, natural de Araçuaí, mas residente em Diamantina, e se diz apartidário. Já Walmy Lessa é advogado, natural de Diamantina e se diz um homem ligado à política. Na época em que existia a União Democrática Nacional (UDN), Walmy militava em suas fileiras. 
 Na entrevista, Otto frisa que a personalidade de JK era confusa. Entretanto, como homem, era do tipo excelente, um homem bom. Mais a frente, Otto analisa JK como um homem que tinha complexo de inferioridade, razão pela qual possuía, a seu ver, como compensação psicológica uma visão de mundo megalomaníaca. Walmy coloca que o traço marcante de JK era do homem não corrupto. Coloca ainda que JK possuía um “espírito jovial”, o gosto pela valsa, pela champanhe, pela cervejinha e, principalmente pelas mulheres.
Em relação ao estilo de se vestir, quando vinha passar uns dias em Diamantina, Walmy conta que JK sempre andava de camisa, paletó e gravata. Para o entrevistado, na época só se andava assim. Quem não andasse assim, não era gente.
O gosto pela seresta era outra marca de JK. A esse respeito, Walmy fala que ele ia cantar, tirar foto, fazer serenatas no Cruzeiro, que fica no alto de uma pedra que dá vista para uma boa parte da cidade. Quando destas serestas, JK requisitava os melhores seresteiros de Diamantina através de Ernesto Roque, um grande seresteiro, e, também, trazia gente do Palácio da Liberdade, quando era governador.
Percebe-se, através das  entrevistas, que JK realmente era um homem com carisma, qualidades extraordinárias que despertam a atenção ou a consciência das massas. Apesar das falhas dele em outros campos, o “homem JK” era sempre preservado pelos amigos.
Como crescera num ambiente humilde, embora digno, conforme dito em suas memórias, JK sonhava em ser alguém na vida. Nesta passagem de suas memórias fica explícito esse caráter “... passaram-se anos. E eis que aquele menino, então homem iria voltar já formado em medicina... A oportunidade era excelente para que todos constatassem a diferença. Seria a hora da auto-afirmação de quem viera do nada e que retornava para disputar um lugar ao sol entre os seus irmãos de berço.”
A infância pobre, de forma circunstancial e não “natural”, como o próprio JK fala em suas memórias, o levou a viver sob paradoxo: se por um lado era oriundo de famílias com uma certa tradição, por outro lado, vivenciava e vivia de forma simples, sem a menor regalia, de forma não deliberada, mas imposta pelo destino. Quem consegue viver ou sobreviver nesse limite, adquire uma visão das coisas de forma “sui generis”. Já outros... não conseguem: ora adere ao mundo dos menos favorecidos de forma comodista ou como  revolucionário; ora adere a elite tradicional e torna-se um exemplo de conservador, ou seja, “mais realista do que o rei”; há, ainda, os que sucumbem em mentiras para manter um “status” aparente ou, também, os que ceifam a própria vida devido as dificuldades de se situar num mundo extremamente contraditório.
JK, dada a sua destreza para entender as coisas, absorveu o que os “dois mundos”, a seu ver, tinham de melhor: a humildade dos pobres e a capacidade de articular nos bastidores, algo corriqueiro da elite.
A formação religiosa, a educação conservadora dada pela sua família, fornecia elementos para que JK conseguisse superar a infância pobre em Diamantina. A estes elementos externos somou-se o contato com a cidade grande como Belo Horizonte, a formação em medicina, a viagem a vários países da Europa, África e Ásia, a entrada para a oficialidade da Polícia Militar mineira como capitão-médico e a participação no combate travado entre Minas Gerais e São Paulo na Serra da Mantiqueira, mais precisamente na cidade de  Virgínia/MG, na Revolução Constitucionalista de 1932. É evidente que todos nós temos as nossas vidas permeadas por diversos fatores. Entretanto, o que varia é a disposição e importância dos fatos acontecidos em nossas vidas. No caso de JK, a disposição dos fatos acontecidos em sua vida é visto dessa forma em suas memórias: “É interessante como a urdidura de uma existência humana se constitui de numerosos pequenos fatos que, na maioria das vezes, parecem não ter significação alguma. Escalonados no tempo, em datas diversas, vão-se, entretanto, encaixando uns nos outros, em seqüência imprevisível mas lógica, até que, fundidos, se transforma nas vigas mestras de um destino.”
Como diz em suas memórias, JK via na possibilidade de estudar medicina a chance de se tornar “doutor”. Igualmente, a possibilidade de diminuir o sofrimento humano. Aqui, fica evidenciado o caráter humano da pessoa de JK.
Após essas breves colocações acerca da pessoa de JK, surge uma questão: qual é mesmo a melhor definição do homem JK? A resposta, a meu ver, está nos interlocutores que tiveram acesso a ele ou, também, em nós observadores e/ou conhecedores de facetas de sua vida. Para Otto Paulino, que é formado em engenharia e se diz apartidário, o homem JK é visto sob o ângulo técnico, ou seja, o administrador. Para Walmy Lessa, que é advogado e antigo militante da UDN, o homem JK é visto basicamente sob o ângulo político. Para as famílias humildes que eram visitadas por JK em Diamantina quando ele ia àquela cidade, o homem JK era visto, certamente, como um médico que dava consulta gratuita. Para os seresteiros de Diamantina, o homem JK era visto como o amante da seresta...
Como se vê, é a faceta que melhor, ou tão-somente, temos conhecimentos que marca a personalidade de uma dada pessoa.
 
Luiz Fernando da Silva

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

CASARÃO ONDE VIVERA O INCONFIDENTE ALVARENGA PEIXOTO



Casarão da Fazenda Paraopebas, na zona rural do município de Conselheiro Lafaiete, Minas Gerais, onde viveu o Inconfidente Alvarenga Peixoto  - Washington Alves/AE


    Washington Alves/AE

    Washington Alves/AE

O viajante que sai de São João del Rei/MG rumo a Belo Horizonte/MG, pela rodovia MG 383, depara nas proximidades da entrada para a cidade de  Entre Rios de Minas, e pouco antes do município de São Braz do Suaçui/MG, com um imenso casarão abandonado a cerca de 500 metros do asfalto no lado direito. Quando eu trabalhava em São Vicente de Minas/MG e ia a Belo Horizonte, sempre passava por ali. E foi numa dessas viagens que o motorista da Prefeitura naquela época (1998), conhecido como Gutinho,  me disse que naquele Casarão vivera o Inconfidente Inácio José de Alvarenga Peixoto, mais conhecido como ALVARENGA PEIXOTO.
Essa rodovia, embora pareça distante de nós aqui do Sul de Minas, liga também o município de Cristina/MG a Maria da Fé/MG e, segundo projeto, a mesma pode chegar até Campos do Jordão/SP, passando por Piranguçu/MG.
Quando eu passava por aquele local, sempre me perguntava o porquê daquele casarão estar abandonado. Felizmente, una notícia boa! Esse patrimônio da humanidade será restaurado  em acordo firmado com Promotoria de Minas que prevê que uma empresa de mineração transforme o imóvel do século 17 em um Centro Cultural, conforme notícia do Jornal Estadão de 19 de abril de 2012 : "...  era ali que o advogado e poeta Inácio José de Alvarenga Peixoto recebia, no século 18, amigos que planejavam se livrar do domínio da coroa portuguesa. O grupo, composto entre outros pelos também poetas Cláudio Manuel da Costa e Tomás Antônio Gonzaga e pelo alferes Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, encabeçava a Inconfidência Mineira e usou a Fazenda Paraopeba para reuniões. Agora, começa a ser afastado o risco de que o resto dessa história se perca sob os escombros da propriedade, batizada nos Autos da Devassa - inquéritos que incriminaram os conjurados - de Covão, por causa da cova formada pela topografia que a cerca. A prefeitura de Conselheiro Lafaiete acaba de decretar o bem de utilidade pública e desapropriar a fazenda, que será restaurada pela Ferrous Resources do Brasil para ser transformada em um centro cultural e ponto de referência da Estrada Real." Marcelo Portela - O Estado de S. Paulo.
Esta notícia é alvissareira numa terra que ainda não tem o hábito de se preservar a memória.

Luiz Fernando da Silva




quarta-feira, 23 de outubro de 2013

BANCOS FUNDADOS EM ITAJUBÁ/MG E EM SANTA RITA DO SAPUCAÍ/MG

Banco de Itajubá - Atualmente Banco Santander - 17-11-2013








Houve um tempo em que o Sul de Minas rivalizava com os grandes centros urbanos, notadamente as capitais dos Estados do centro-sul, no âmbito financeiro. Como exemplo e só para ficar aqui no extremo Sul de Minas, a característica marcante dessa pujança foi a fundação do Banco de Itajubá, em 1912, na cidade de Itajubá/MG e do Banco Santarritense, em 1914, na cidade de Santa Rita do Sapucaí/MG.

Os ilustres fundadores foram respectivamente o ex-presidente Wenceslau Braz Pereira Gomes, natural de Brazópolis/MG e Francisco Moreira da Costa, irmão do ex-presidente Delfim Moreira da Costa. Pessoas visionárias para a época.

Ambos os Bancos foram encampados pelo Banco da Lavoura: o Banco Santarritense em 1927 e o Banco de Itajubá em 1957. 
O Banco da Lavoura foi encampado pelo Banco Real nos anos 70 do século passado.
Já a história do Banco Santarritense parece-me mais rica. Nas palavras de seu neto, Sr. Francisco Moreira da Costa Neto, em entrevista ao Jornal Empório de Notícias da cidade de Santa Rita do Sapucaí, de 06/02/2012: “Meu avô fundou o Banco Santarritense no ano de 1914, em sociedade com o Cel. Joaquim Inácio. Era um Banco pequeno e tinha filiais em Pouso Alegre, Itajubá, São Lourenço e outras cidades. Ao todo, eram mais ou menos doze agências.

Em 1927, meu avô foi a Belo Horizonte e conheceu o Senhor Clemente Faria, dono de um outro Banco, mais ou menos com as mesmas características do dele e eles resolveram se associar. Desde então, com esta fusão suas agências passaram a se chamar Banco da Lavoura de Minas Gerais.

Apesar dessa sociedade, talvez por um pouco de bairrismo de sua parte, meu avô convencionou que as agências em torno de Santa Rita continuassem se chamando Banco Santarritense, por um período de 10 anos – até 1937.

No Banco da Lavoura, meu avô ficou muito amigo do Magalhães Pinto (Que mais tarde se tornou governador do Estado). Ele não era rico nem nada, mas era um funcionário muito qualificado. Aos 21 anos, ele já havia se tornado gerente, o que era muito raro para a época. Desde então, passou a ser um homem de sua confiança em Belo Horizonte.

Em 1943, estávamos entrando na ditadura e houve o Manifesto dos Mineiros. Nisso, meu avô, apesar de grande acionista, foi obrigado a deixar a presidência do Banco, já que seu partido era contra o governo. No ano seguinte, ele e Magalhães resolveram criar um novo Banco: o Banco Nacional de Minas Gerais. Enquanto ele controlava a região, Magalhães Pinto comandava em torno de Belo Horizonte. A agência número 1 foi aqui em Santa Rita e Francisco Moreira foi o presidente até morrer, em 1957”. (grifo meu).
No final dos anos 70, o Banco Nacional de Minas Gerais passa a se chamar somente Banco Nacional S/A. No ano de 1994, o Banco Nacional S/A era o quinto banco brasileiro no ranking por ativos financeiros, atrás apenas do Banco do Brasil, do Bradesco, do Banco Itaú e do Banco Bamerindus. 
Em 1995, o Banco Nacional S/A sofre intervenção do Banco Central e parte dele é encampada pelo Unibanco, que também foi fundado no Sul de Minas, mais precisamente na cidade de Poços de Caldas, em 1924.  Acaba-se, assim, a saga itajubense e santarritense na área financeira!
No final do ano de 2008, o Unibanco também foi encampado pelo Banco Itaú S/A.



Luiz Fernando da Silva

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

FOTO ANTIGA DO CINQUENTENÁRIO DE BRAZÓPOLIS/MG



Há tempos venho observando a exposição de fotos antigas de várias cidades no Facebook e nos diversos Blogs. A iniciativa é muito interessante do ponto de vista de nossa memória. Contudo, tenho também observado a ausência de legendas e, na maioria dos casos, de análises situacionais referentes às referidas fotos. É claro que, para tanto, há a necessidade de conhecimentos relativos às referidas postagens. Há, em alguns casos, a simples exposição de fotos antigas sem legendas e análises situacionais com a intenção de provocar o debate entre os participantes e visitantes de um dado Blog acerca delas. Algo que também é criativo.

Contudo, vejo que uma foto deslocada de contexto e sem legenda é como um objeto arqueológico extraído de um dado lugar e colocado em cima de uma mesa numa sala de estar. Pode ser bonita, interessante, exótica... mas falta-lhe substrato para envernizar a sua importância real.

Partindo dessa constatação e com a sugestão do colaborador e amigo João Paulo Braga Floriano, resolvi postar também, em meu Blog, fotos históricas, pitorescas e da atualidade, acompanhadas de legendas e análises sócio-histórica-político-econômica.

Luiz Fernando da Silva




 o ano  de 1952, registrado na foto, talvez seja um equívoco meu ao colocar a legenda nela ou,  mesmo,  do CPDOC da FGV.




Corria o ano de 1951. Brazópolis estava no auge de seu desenvolvimento sócio-econômico. Grande produtora de café, tinha ferrovia e uma rodovia em vias de ser inaugurada. O bairro da Beira da Linha era a Meca do desenvolvimento na cidade. Tinha posto de gasolina, grandes armazéns de café, lojas de equipamentos agrícolas, etc. e tal. A importância daquela região era tanta que a Igreja da Matriz fora construída voltada para lá. Havia, ainda, a Igreja do Rosário, construída no local onde hoje é estacionamento, ao lado da Prefeitura Municipal.
Para ilustrar tanto desenvolvimento, o Governador JK e ilustres próceres, dentre eles, o ex-presidente da República, Wenceslau Braz Pereira Gomes, estavam presentes na solenidade do cinquentenário da aprazível cidade de Brazópolis.
Corria o ano de 2001, cinquenta anos depois, no centenário da querida Brazópolis, ocasião em que eu estava presente no governo municipal como Secretário de Saúde, já não havia tantos próceres assim. Razão do tempo. Coisas indeléveis numa cidade que não aproveitou o bonde da história para se firmar regionalmente. Avante Brazópolis!