No filme de Sílvio Tendler
‘Os Anos JK’, há a presunção de que, talvez, Juscelino Kubitschek estivesse
governando Minas Gerais e já pensando na construção de Brasília.
Segundo o historiador Lincoln Penna,
o Governador de Pernambuco, Etelvino Lins, parecia ser o candidato ideal para a
UDN e parcela do PSD tendo em vista o seu estilo anti-populista. Por isso, o
seu nome era respaldado, quase que de imediato, pelas lideranças udenistas,
dentre elas, Carlos Lacerda.
Em que pesasse aquele fator,
JK vai se tornar o candidato da ala renovadora do Partido Social Democrático (PSD)
à Presidência da República. Como as Forças Armadas gostariam de ver um militar,
enquanto candidato de união nacional, tentaram, assim, eliminar da disputa o
candidato JK.
Contando com a fidelidade de trinta mil
homens armados no Estado de Minas, JK resiste à intimidação das forças armadas.
Na campanha presidencial, JK promete uma
arrancada desenvolvimentista em sua administração, ou seja, 50 anos de
desenvolvimento em 05 anos de governo. Assim, consegue uma vitória, até certo ponto, surpreendente.
As eleições foram
consideradas limpas, livres e honestas. JK vence com 36% dos votos, ou seja,
sem a maioria absoluta. João Goulart é vitorioso para ocupar a Vice-Presidência da República. Na época, votava-se em separado para vice-presidente.
Para Edgar Carone, “a vitória, como se
esperava, foi da coligação populista. JK, com 36% dos votos, representava
principalmente os setores da burguesia industrial e financeira e a oligarquia
dos Estados mais atrasados, tendo à frente a oligarquia pessedista mineira. A
vitória de Goulart devia-se aos votos das classes trabalhadoras e das camadas
médias de baixa renda das maiores cidades, além do apoio dos “currais”
pessedistas em cada Estado. Juarez Távora, aliado de Getúlio até 1937 e lançado
pelo Partido Democrata Cristão, com apoio da UDN, obteve 30% dos votos, seguido
do ex-interventor de São Paulo, Adhemar de Barros, chefe do Partido Social
Progressista, com 26%. O menos votado foi o integralista Plínio Salgado, de
extrema-direita, com 8%".
Ainda segundo Carone, "derrotada, a UDN, ao lado de
uma organização direitista, a Cruzada Brasileira Anticomunista, tentou impedir
a posse dos eleitos, apelando novamente para as Forças Armadas: “quem tem nas
mãos a força para decidir a questão”, segundo Carlos Lacerda. Sua “Banda de
Música”, a agressiva ala dos bacharéis udenistas, argumentava mais uma vez que
os eleitos, o argumento só era utilizado após os resultados, deveriam ter a
maioria absoluta dos votos. Civis e militares antigetulistas incitavam o
Governo a não empossar os eleitos, que também eram acusados de ‘criminosos da
pior espécie, que é o de enganar o povo com o dinheiro que lhe roubou’, de ter
o apoio dos comunistas e de um eleitorado ‘formado pela massa ignorante,
sofredora, desiludida’".
Algumas das acusações até
são interessantes temas para debates, mas seu sentido político naquele momento
era bem claro: justificar o golpe. Como notaram vários historiadores,
tratava-se de um comportamento típico de muitos liberais na história do Brasil:
derrotados nas eleições, e sem penetração popular, recorriam à intervenção dos
militares para “salvar a democracia”.
Devido ao clima de
instabilidade provocado pela UDN após a eleição de JK, o General Henrique
Teixeira Lott, segundo Penna, prende o Coronel Mamede por desrespeito à ordem
democrática devido ao discurso deste no enterro do General Canrobert Pereira da
Costa. Lott, então, manda um relatório ao Presidente-interino Carlos Luz,
informando-o desse acontecimento nas Forças Armadas. A tomada de posição do
Presidente-interino é totalmente contrária ao que Lott pensava, ou seja, não
pune o Coronel Mamede e ainda nomeia o General Fiúza de Castro para a pasta da
Guerra. Portanto, Lott, nesse caso, estaria demitido e, consequentemente, a
tentativa de golpe de Estado em estágio bem avançado. O General Lott não se dá
por vencido e surpreende os pretensos golpistas através de uma articulação com
o General Odílio Denis em que consegue retomar a Pasta da Guerra e destituir o
Presidente-interino da República Carlos Luz. Após esse fato, o General Lott
convoca Nereu Ramos, Presidente do Senado, para, também, assumir interinamente a
Presidência da República até a posse de JK.
A respeito da atitude de
Lott e dos legalistas, Edgard Luiz de Barros coloca que é “... o chamado ‘contragolpe da legalidade’ acionado
pelo general Lott, na verdade, um golpe militar que impediu a barbárie
exclusivista que a UDN e os conspiradores militares pretendiam implantar em
1955, mas confirmou a inexistência da democracia no Brasil como um valor maior
e mais profundo do que a representatividade formal”.
Segundo Edgard, JK assume a
presidência em 31 de janeiro de 1956 e rompe um paradigma político, ou seja,
age com estilo democrático, coisa até então inexistente na história do país.