quinta-feira, 28 de novembro de 2013

O HOMEM JK



Em duas entrevistas que tive acesso, feitas por uma moradora de Diamantina, em 1995, relacionadas a Juscelino Kubitschek de Oliveira - 1902/1976 -  e à cidade de Diamantina, com Otto Paulino e Walmy Lessa, contemporâneos e amigos dele, pude captar melhor como era o homem JK. É bom salientar que não sei sobre o atual paradeiro dos dois entrevistados. Assim, vou me ater as partes das entrevistas como feitas à época.
Para entender melhor  as colocações dos dois entrevistados, é bom que se diga que Otto Paulino é engenheiro geológico, natural de Araçuaí, mas residente em Diamantina, e se diz apartidário. Já Walmy Lessa é advogado, natural de Diamantina e se diz um homem ligado à política. Na época em que existia a União Democrática Nacional (UDN), Walmy militava em suas fileiras. 
 Na entrevista, Otto frisa que a personalidade de JK era confusa. Entretanto, como homem, era do tipo excelente, um homem bom. Mais a frente, Otto analisa JK como um homem que tinha complexo de inferioridade, razão pela qual possuía, a seu ver, como compensação psicológica uma visão de mundo megalomaníaca. Walmy coloca que o traço marcante de JK era do homem não corrupto. Coloca ainda que JK possuía um “espírito jovial”, o gosto pela valsa, pela champanhe, pela cervejinha e, principalmente pelas mulheres.
Em relação ao estilo de se vestir, quando vinha passar uns dias em Diamantina, Walmy conta que JK sempre andava de camisa, paletó e gravata. Para o entrevistado, na época só se andava assim. Quem não andasse assim, não era gente.
O gosto pela seresta era outra marca de JK. A esse respeito, Walmy fala que ele ia cantar, tirar foto, fazer serenatas no Cruzeiro, que fica no alto de uma pedra que dá vista para uma boa parte da cidade. Quando destas serestas, JK requisitava os melhores seresteiros de Diamantina através de Ernesto Roque, um grande seresteiro, e, também, trazia gente do Palácio da Liberdade, quando era governador.
Percebe-se, através das  entrevistas, que JK realmente era um homem com carisma, qualidades extraordinárias que despertam a atenção ou a consciência das massas. Apesar das falhas dele em outros campos, o “homem JK” era sempre preservado pelos amigos.
Como crescera num ambiente humilde, embora digno, conforme dito em suas memórias, JK sonhava em ser alguém na vida. Nesta passagem de suas memórias fica explícito esse caráter “... passaram-se anos. E eis que aquele menino, então homem iria voltar já formado em medicina... A oportunidade era excelente para que todos constatassem a diferença. Seria a hora da auto-afirmação de quem viera do nada e que retornava para disputar um lugar ao sol entre os seus irmãos de berço.”
A infância pobre, de forma circunstancial e não “natural”, como o próprio JK fala em suas memórias, o levou a viver sob paradoxo: se por um lado era oriundo de famílias com uma certa tradição, por outro lado, vivenciava e vivia de forma simples, sem a menor regalia, de forma não deliberada, mas imposta pelo destino. Quem consegue viver ou sobreviver nesse limite, adquire uma visão das coisas de forma “sui generis”. Já outros... não conseguem: ora adere ao mundo dos menos favorecidos de forma comodista ou como  revolucionário; ora adere a elite tradicional e torna-se um exemplo de conservador, ou seja, “mais realista do que o rei”; há, ainda, os que sucumbem em mentiras para manter um “status” aparente ou, também, os que ceifam a própria vida devido as dificuldades de se situar num mundo extremamente contraditório.
JK, dada a sua destreza para entender as coisas, absorveu o que os “dois mundos”, a seu ver, tinham de melhor: a humildade dos pobres e a capacidade de articular nos bastidores, algo corriqueiro da elite.
A formação religiosa, a educação conservadora dada pela sua família, fornecia elementos para que JK conseguisse superar a infância pobre em Diamantina. A estes elementos externos somou-se o contato com a cidade grande como Belo Horizonte, a formação em medicina, a viagem a vários países da Europa, África e Ásia, a entrada para a oficialidade da Polícia Militar mineira como capitão-médico e a participação no combate travado entre Minas Gerais e São Paulo na Serra da Mantiqueira, mais precisamente na cidade de  Virgínia/MG, na Revolução Constitucionalista de 1932. É evidente que todos nós temos as nossas vidas permeadas por diversos fatores. Entretanto, o que varia é a disposição e importância dos fatos acontecidos em nossas vidas. No caso de JK, a disposição dos fatos acontecidos em sua vida é visto dessa forma em suas memórias: “É interessante como a urdidura de uma existência humana se constitui de numerosos pequenos fatos que, na maioria das vezes, parecem não ter significação alguma. Escalonados no tempo, em datas diversas, vão-se, entretanto, encaixando uns nos outros, em seqüência imprevisível mas lógica, até que, fundidos, se transforma nas vigas mestras de um destino.”
Como diz em suas memórias, JK via na possibilidade de estudar medicina a chance de se tornar “doutor”. Igualmente, a possibilidade de diminuir o sofrimento humano. Aqui, fica evidenciado o caráter humano da pessoa de JK.
Após essas breves colocações acerca da pessoa de JK, surge uma questão: qual é mesmo a melhor definição do homem JK? A resposta, a meu ver, está nos interlocutores que tiveram acesso a ele ou, também, em nós observadores e/ou conhecedores de facetas de sua vida. Para Otto Paulino, que é formado em engenharia e se diz apartidário, o homem JK é visto sob o ângulo técnico, ou seja, o administrador. Para Walmy Lessa, que é advogado e antigo militante da UDN, o homem JK é visto basicamente sob o ângulo político. Para as famílias humildes que eram visitadas por JK em Diamantina quando ele ia àquela cidade, o homem JK era visto, certamente, como um médico que dava consulta gratuita. Para os seresteiros de Diamantina, o homem JK era visto como o amante da seresta...
Como se vê, é a faceta que melhor, ou tão-somente, temos conhecimentos que marca a personalidade de uma dada pessoa.
 
Luiz Fernando da Silva

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