A participação na Revolução
Constitucionalista foi, a meu ver, fundamental para JK se tornar um grande político.
Na ocasião, fizera amizade com um senhor, Benedito Valadares Ribeiro, que o
levaria, em breve, para o Palácio da Liberdade. Benedito Valadares, enquanto
interventor do Estado Novo, e JK, enquanto chefe da Casa Civil. Também na
ocasião, JK conhece Filinto Strubling Müller, futuro chefe da Polícia do
Distrito Federal, considerado pela chamada esquerda como um nazista, dado o seu
“método” de trabalho, e também Eurico Gaspar Dutra, que se tornaria Presidente
da República entre 1946 e 1950.
A propósito da nomeação de
JK para a Casa Civil do Palácio da Liberdade, através da amizade com Benedito
Valadares e, também, da competência enquanto médico na Revolução de 1932, há,
evidentemente, episódios anteriores que demonstram senão um oportunismo, pelo
menos uma sagacidade de JK: ao se casar com Sarah Lemos, ele se insere numa
família tradicional de Minas Gerais, ou seja, passa-se a existir a união do
jovem e talentoso médico, porém sem lastro tradicional, com a “nata” da família
mineira; assim, D. Luisa Lemos, sua sogra, intercede junto ao outro genro, que
não por acaso, era Gabriel Passos, Secretário Particular do Presidente/Governador
do Estado de Minas Gerais Olegário Maciel, para que JK fosse nomeado para o Hospital Militar;
dessa maneira, ele é nomeado e torna-se oficial da Força Pública de Minas
Gerais.
A nomeação de JK em 1933,
como chefe da Casa Civil do interventor/Governador Benedito Valadares, será o
ponto de partida do jovem político. Demonstrando capacidade política, JK serve
a um governo que ele próprio, como demonstrou em suas memórias, não se afinava
“ideologicamente”, ou seja, um governo produto de intervenção e não dos valores
democráticos, aos quais se dizia afinar.
A inserção de JK na chapa
oficial do Palácio da Liberdade para a disputa de uma cadeira enquanto deputado
federal, que era condição fundamental para um político se eleger, leva-o à
primeira vitória eleitoral de sua carreira nas eleições de 1934.
É nessa época que JK retorna
à Diamantina enquanto deputado federal eleito e ainda chefe da Casa Civil.
Começava-se, ali, o nascimento de um “cacique” político em Diamantina em
substituição ao outro “cacique” daquela cidade, que era Olímpio Mourão.
O interessante é que,
diretamente, JK nunca disputou uma eleição em Diamantina. Deixava sempre essa
tarefa para os seus prepostos.
No período em que estava na
Casa Civil, bem como quando após assumir o mandato de deputado federal, JK
intermediou muitas obras para Diamantina, prometidas na campanha para a eleição
de Joubert Guerra, seu candidato a prefeito em 1936. Antes, em 1930, já havia
conseguido a reforma do casario diamantinense que, segundo ele, estava todo em
ruína.
Como JK consegue tornar-se
“cacique político” em Diamantina? Segundo suas memórias, JK frisa que a forma
de fazer política da elite dominante local, onde o povo servia apenas como
“massa de manobra”, já não correspondia mais à realidade, principalmente para
um político que não fosse oriundo da elite. O que propõe? Propõe um meio-termo a
guisa de sua própria formação enquanto ser. Estabeleceu um corpo-a-corpo, em
1936, na campanha para prefeito que deixou a elite local desconcertada. Isso
não era costume na época, já que o voto era de “cabresto”, ou seja, votava-se
em quem o patrão determinasse.
As obras prometidas por JK,
logo se tornaram realidade e fortaleceram a imagem dele em Diamantina. Como as obras
beneficiavam a todos na cidade, independentemente se era a elite ou o povão, JK
demonstrou uma grande capacidade de manobra. Noutras palavras, agindo assim,
ele anulou a elite recalcitrante e passou a ter uma influência cada vez mais
forte naquela cidade.
Embora afirmasse o caráter
apenas humanitário de sua formação médica, não foi o que aconteceu na periferia
de Belo Horizonte e nem nas áreas pobres de Diamantina. JK utilizava de sua
formação médica para ganhar a simpatia das populações humildes. Dessa forma,
atuava mais como um político-médico do que simplesmente como um médico. Portanto,
o caráter político de sua atuação, enquanto médico, era no sentido paternalista
e clientelista e não no sentido de trabalhar para que a medicina chegasse a
todos.
JK é empossado como deputado
federal em 1936 e já em 1937 perde o seu mandato devido à instauração do Estado
Novo por Getúlio Vargas. Percebendo a força que o chefe do Estado Novo possuía,
JK recolhe-se à vida privada enquanto médico. Entretanto, à posteriori, em suas
memórias, não lhe perdoava pelo estilo ditatorial de governar o país. Mas
memórias são memórias. Em 1940, o interventor da ditadura Varguista, em Minas,
Benedito Valadares, o convida para o cargo de prefeito de Belo Horizonte. JK
aceita o convite e é nomeado prefeito, cargo que ocupará até 1945.
A Prefeitura de Belo
Horizonte representava o primeiro cargo executivo com amplas margens de manobras
para JK. O estilo “megalomaníaco” afirmado pelo entrevistado Otto, engenheiro e
amigo dele lá em Diamantina, será consubstanciado na construção de um imenso
cartão de visita de Belo Horizonte, que é a região da Pampulha.
Se aquela região tornou-se
um cartão de visita de Belo Horizonte, tornara-se, também, um objeto
promocional do político JK. Dessa maneira, a eleição novamente para deputado em
1946 e a eleição para governador em 1950 são consequências dessas obras
realizadas por JK.
Quando Governador de Minas,
JK implementou um conjunto de obras no Estado que o levou a se tornar
referência nacional: abertura e pavimentação de novas estradas bem como as de
muitas já existentes; fortalecimento de empresas mineiras, principalmente as de
construções pesadas, entre elas, a Mendes Júnior e a Andrade Gutierrez;
construção de usinas hidrelétricas... Ou seja, o binômio transporte e energia.
O estilo pessoal, sem
rancor, sem revanchismo, sempre com um sorriso no rosto e o estilo político
como tocador de obras grandiosas, diplomático... conferiram à JK uma aura de
simpatia que transcendeu em muito as fronteiras do Estado.
A articulação bem como a
vitória para a Presidência da República em 1956 será o próximo passo desse
mineiro de Diamantina.
Luiz Fernando da Silva
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