quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

A ASCENSÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA DE JUSCELINO KUBITSCHEK



A participação na Revolução Constitucionalista foi, a meu ver, fundamental para JK se tornar um grande político. Na ocasião, fizera amizade com um senhor, Benedito Valadares Ribeiro, que o levaria, em breve, para o Palácio da Liberdade. Benedito Valadares, enquanto interventor do Estado Novo, e JK, enquanto chefe da Casa Civil. Também na ocasião, JK conhece Filinto Strubling Müller, futuro chefe da Polícia do Distrito Federal, considerado pela chamada esquerda como um nazista, dado o seu “método” de trabalho, e também Eurico Gaspar Dutra, que se tornaria Presidente da República entre 1946 e 1950.
A propósito da nomeação de JK para a Casa Civil do Palácio da Liberdade, através da amizade com Benedito Valadares e, também, da competência enquanto médico na Revolução de 1932, há, evidentemente, episódios anteriores que demonstram senão um oportunismo, pelo menos uma sagacidade de JK: ao se casar com Sarah Lemos, ele se insere numa família tradicional de Minas Gerais, ou seja, passa-se a existir a união do jovem e talentoso médico, porém sem lastro tradicional, com a “nata” da família mineira; assim, D. Luisa Lemos, sua sogra, intercede junto ao outro genro, que não por acaso, era Gabriel Passos, Secretário Particular do Presidente/Governador do Estado de Minas Gerais Olegário Maciel, para que  JK fosse nomeado para o Hospital Militar; dessa maneira, ele é nomeado e torna-se oficial da Força Pública de Minas Gerais.
A nomeação de JK em 1933, como chefe da Casa Civil do interventor/Governador Benedito Valadares, será o ponto de partida do jovem político. Demonstrando capacidade política, JK serve a um governo que ele próprio, como demonstrou em suas memórias, não se afinava “ideologicamente”, ou seja, um governo produto de intervenção e não dos valores democráticos, aos quais se dizia afinar.
A inserção de JK na chapa oficial do Palácio da Liberdade para a disputa de uma cadeira enquanto deputado federal, que era condição fundamental para um político se eleger, leva-o à primeira vitória eleitoral de sua carreira nas eleições de 1934.
É nessa época que JK retorna à Diamantina enquanto deputado federal eleito e ainda chefe da Casa Civil. Começava-se, ali, o nascimento de um “cacique” político em Diamantina em substituição ao outro “cacique” daquela cidade, que era Olímpio Mourão.
O interessante é que, diretamente, JK nunca disputou uma eleição em Diamantina. Deixava sempre essa tarefa para os seus prepostos.
No período em que estava na Casa Civil, bem como quando após assumir o mandato de deputado federal, JK intermediou muitas obras para Diamantina, prometidas na campanha para a eleição de Joubert Guerra, seu candidato a prefeito em 1936. Antes, em 1930, já havia conseguido a reforma do casario diamantinense que, segundo ele, estava todo em ruína.
Como JK consegue tornar-se “cacique político” em Diamantina? Segundo suas memórias, JK frisa que a forma de fazer política da elite dominante local, onde o povo servia apenas como “massa de manobra”, já não correspondia mais à realidade, principalmente para um político que não fosse oriundo da elite. O que propõe? Propõe um meio-termo a guisa de sua própria formação enquanto ser. Estabeleceu um corpo-a-corpo, em 1936, na campanha para prefeito que deixou a elite local desconcertada. Isso não era costume na época, já que o voto era de “cabresto”, ou seja, votava-se em quem o patrão determinasse.
As obras prometidas por JK, logo se tornaram realidade e fortaleceram a imagem dele em Diamantina. Como as obras beneficiavam a todos na cidade, independentemente se era a elite ou o povão, JK demonstrou uma grande capacidade de manobra. Noutras palavras, agindo assim, ele anulou a elite recalcitrante e passou a ter uma influência cada vez mais forte naquela cidade.
Embora afirmasse o caráter apenas humanitário de sua formação médica, não foi o que aconteceu na periferia de Belo Horizonte e nem nas áreas pobres de Diamantina. JK utilizava de sua formação médica para ganhar a simpatia das populações humildes. Dessa forma, atuava mais como um político-médico do que simplesmente como um médico. Portanto, o caráter político de sua atuação, enquanto médico, era no sentido paternalista e clientelista e não no sentido de trabalhar para que a medicina chegasse a todos.
JK é empossado como deputado federal em 1936 e já em 1937 perde o seu mandato devido à instauração do Estado Novo por Getúlio Vargas. Percebendo a força que o chefe do Estado Novo possuía, JK recolhe-se à vida privada enquanto médico. Entretanto, à posteriori, em suas memórias, não lhe perdoava pelo estilo ditatorial de governar o país. Mas memórias são memórias. Em 1940, o interventor da ditadura Varguista, em Minas, Benedito Valadares, o convida para o cargo de prefeito de Belo Horizonte. JK aceita o convite e é nomeado prefeito, cargo que ocupará até 1945.
A Prefeitura de Belo Horizonte representava o primeiro cargo executivo com amplas margens de manobras para JK. O estilo “megalomaníaco” afirmado pelo entrevistado Otto, engenheiro e amigo dele lá em Diamantina, será consubstanciado na construção de um imenso cartão de visita de Belo Horizonte, que é a região da Pampulha.
Se aquela região tornou-se um cartão de visita de Belo Horizonte, tornara-se, também, um objeto promocional do político JK. Dessa maneira, a eleição novamente para deputado em 1946 e a eleição para governador em 1950 são consequências dessas obras realizadas por JK.
Quando Governador de Minas, JK implementou um conjunto de obras no Estado que o levou a se tornar referência nacional: abertura e pavimentação de novas estradas bem como as de muitas já existentes; fortalecimento de empresas mineiras, principalmente as de construções pesadas, entre elas, a Mendes Júnior e a Andrade Gutierrez; construção de usinas hidrelétricas... Ou seja, o binômio transporte e energia.
O estilo pessoal, sem rancor, sem revanchismo, sempre com um sorriso no rosto e o estilo político como tocador de obras grandiosas, diplomático... conferiram à JK uma aura de simpatia que transcendeu em muito as fronteiras do Estado.
A articulação bem como a vitória para a Presidência da República em 1956 será o próximo passo desse mineiro de Diamantina.

Luiz Fernando da Silva

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