DIREITA E ESQUERDA NO BRASIL
Parece
“démodé”, mas não é. Em artigo recente, num jornal paulista (Folha de S. Paulo
de 13/08/2006), foi ressuscitado o tema esquerda/direita. E foi para minha
surpresa, já que estava me preparando para fazer um artigo sobre o avanço do
pensamento social democrata e da esquerda no Brasil. Na pesquisa feita com a
população brasileira foi demonstrado que 47% da população brasileira optam pela
direita e apenas 30% pela esquerda.
A
meu ver, esse fator em certo aspecto é paradoxal. Se não, vejamos: nos últimos
vinte e poucos anos, a partir da redemocratização, somente um presidente,
declaradamente de direita e com apelo populista, se elegeu presidente. Isso
demonstra que o pensamento político de direita, pelo menos no Brasil, perdeu a
capacidade de arregimentar forças. Do ponto de vista geral, o referido artigo
coloca que até é pouco essa percentagem, uma vez que a mesma é bem maior no
quesito contra o aborto, a favor da pena de morte, contra a liberalização da
maconha...
Do ponto de
vista político, a realidade é outra: qual seria a chance de um candidato do
PFL, PPB, PRONA... de se eleger presidente hoje no Brasil? Nenhuma. Somando-se
a isso, muitos políticos declaradamente da chamada direita se apressaram em
mudar para um partido que tivesse conotação social democrata ou até mesmo da
chamada esquerda para manter as suas chances eleitorais. Assim, se analisarmos
sob essa faceta da realidade, as análises feitas pelo jornal paulista ficam
bastante capengas.
No
entanto, a bem da verdade, há muito tempo a classificação esquerda/direita deixou
de corresponder à realidade, num sentido estrito. Há até pessoas que associam o
caráter esquerdista a quem esteja na oposição, dada à ambigüidade que o termo
encerra. Entretanto, como o jornal fez a pesquisa e chegou a tal constatação,
achei interessante analisar o tema do ponto de vista sociológico.
Há
que ressaltar que em pesquisa realizada no estilo “survey”, deve se ter os
parâmetros de montagem do questionário para se ter uma análise mais acurada. O
que dá para depreender da referida pesquisa é que o cidadão, no sentido amplo
do termo, faz uma “geléia geral” na relação aspectos da realidade no sentido
amplo e opção político-partidária. Apóia majoritariamente candidato com
histórico de esquerda, mas é de direita no sentido geral.
Para
o filósofo italiano Antônio Gramsci, esse retrato da realidade evidencia o
caráter ideológico de direita arraigado, do ponto de vista social, em
contraponto à incipiente tentativa de hegemonia do pensamento político-partidário
social democrata e de esquerda.
Em outras
palavras, isso demonstra que captar o ideário de uma dada população, de forma
bastante próxima da realidade, não é algo fácil.
Luiz Fernando da Silva
Sociólogo
Setembro/2006
Santa Rita do Sapucaí/MG
Muito bom sua crônica. e, como você mesmo diz, ainda atual.Trabalhei no Jornal Vale da Eletrônica, com Seu Rubens por mais de 2 anos. Saí de lá em 2005.
ResponderExcluirObrigado Fátima! Sr. Rubens era mesmo uma pessoa acessível. Pena que publiquei somente este artigo no seu Jornal. Abraços
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