Findaram-se as eleições presidenciais de 2014. Como eleitor e
observador do processo eleitoral há mais de 30 anos, vejo que somente em 1989
houve acirramento tão febril quanto agora. Os demais processos eleitorais
foram, de maneira geral, mais brandos.
Quais foram os motivos de tanto acirramento político? Há nos
processos eleitorais estratégias que são comuns: tentar tirar vantagens da
realidade para se eleger; acusar o adversário de incompetente; mostrar quem tem
mais condições de governar... No caso de reeleição, a vantagem dos dados
referentes à administração do país é algo que tem beneficiado o governo de plantão.
Afinal, a informação administrativa não é publicada se ele não fizer manobra para tanto. Esse
fator é gravíssimo no processo de reeleição! Tomar ciência dos dados referentes
ao país é um direito nosso, independente das circunstâncias. Isso, contudo, não
isenta a fraqueza da oposição em escarafunchar as organizações governamentais,
de forma mais inteligente, para obter dados mais acurados e atualizados dos
desmandos no Palácio do Planalto. O Governo Central escamoteou os dados ruins
para tirar vantagens eleitorais. Contudo, esse escamoteamento de dados ruins,
do governo de plantão e candidato a reeleição, não explica o sucesso eleitoral
obtido nas urnas.
A capilaridade do Partido dos Trabalhadores nos grotões do
Brasil, essa sim, explica o sucesso dele nas urnas. De partido nascente com
visão moderna de mundo, enraizado nos setores mais progressistas do país, como
o ABC paulista e a intelectualidade brasileira, o PT tornou-se um partido
obsoleto, dos menos informados e dos menos formados, dos grotões brasileiros,
cuja única muleta para se sustentar no poder é o Bolsa Família, vide mapa do
resultado eleitoral. Esse fator consubstancia o PT no POPULISMO do falecido Leonel
Brizola. Ou seja, transforma o PT no NEOCORONEL, fazendo terror com quem recebe a ajuda
do governo através do Bolsa Família, dizendo-lhe que o candidato opositor vai
retirar dele esse benefício. É pouco para um partido que pretende ficar num país da dimensão
do Brasil! É ficar à mercê de visão de mundo tão canhestra!
Os simpatizantes do PT, não digo nem militantes, porque hoje
são todos pagos para segurar bandeirinhas e fazer papel de claque, tentam se
segurar na pobreza do discurso de que antes não havia programas sociais tão
abrangentes. Numa palavra, pode-se desviar dinheiro público, pode-se copiar o
“inteligente” Hugo Chávez, pode-se fazer o que quiser... Afinal, os fins
justificam os meios.
Os programas de inclusão social são importantes ferramentas,
sim. Ainda mais num país injusto como o Brasil. Mas deve ter caráter
temporário. Noutras palavras, é uma ajuda para retirar da pobreza as camadas
mais necessitadas e inseri-las no mercado de trabalho. Mas o que se sucede é
que o Bolsa Família veio para ficar e ser
utilizado como moeda eleitoral, algo típico dos antigos coronéis, sendo
materializado no NEOCORONELISMO. Assim, o que se percebe é que está, digamos, faltando clarividência aos
simpatizantes desse partido para ter uma visão sistêmica de poder. Pipocam
todos os dias denúncias e mais denúncias de assalto ao patrimônio público em
benefício do PT e seus aliados. O cidadão comum e eleitor do PT sofre no
cotidiano, permanece no subemprego, não consegue sair das dívidas e, ainda
assim, defende uma elite política que navegam nos melhores cargos do governo
federal. Nas doces sinecuras do governo do PT. Como consegue chamar de progressista um partido que não fez nenhuma
reforma estrutural no país em doze anos de governo? Como pode chamá-lo de
“esquerda” um governo que é pai dos pobres e mãe dos ricos, vide Bolsa Família
e Bolsa Empresa, que tem como aliados Renan Calheiros, Sarney, Collor et
caterva?
Esse aspecto, a meu ver, está inserido no que Antonio
Gramsci, filósofo italiano, chamou de HEGEMONIA. Como antigo militante, sim, eu
era militante, mesmo. Portanto, eu não ganhava nada financeiramente e ainda contribuía
com meus parcos recursos para candidaturas eletivas do PT, além de promover
festinhas para arrecadação de fundos para esse partido nos idos 1987/1991.
Nessa época, eu ficava pensando: como esse partido poderá um dia se tornar
hegemônico na sociedade? A um amigo meu de militância, que chorava a perda das
eleições de 1989, eu dizia, já prevendo o que viria do PT: _ não se iluda muito,
não! Talvez, no futuro, quando esse partido chegar ao poder, você poderá ter
fortes desilusões... Eu falava isso em referência, principalmente, à Revolução Russa. Lá,
Martov, Plekhanov e vários outros, apesar de aliados, não compartilharam da
vitória naquele Outubro de 1917. Falava, também, em referência a Juscelino
Kubistschek, que apoiou o Movimento militar no Brasil em 1964 e foi um dos primeiros
a ser rechaçado pelos militares. Em suma, a história está cheia de exemplos.
O PT, inteligentemente, conseguiu se tornar hegemônico. Algo
impensável no passado, pelo menos com aquela visão de mundo que o partido
tinha. O que o PT fez para mudar esse estado coisas? Como perdera três eleições
presidenciais, o PT percebeu que se não se aliasse ao segmento considerando de
direita, conservador, de elite, jamais conseguiria chegar ao Planalto. Uma vez
aliado a esses estratos sociais e bem sucedido nas eleições de 2002, o PT
passou a se utilizar de várias frentes para permanecer no poder por mais duas
décadas: desconstruir a imagem de Fernando Henrique Cardoso e do Partido da
Social Democracia Brasileira e seu legado; abandonar o programa Fome Zero; aglutinar
todos os programas sociais do PSDB como Vale gás, bolsa alimentação, bolsa
escola e cadastro unificado num único programa denominado Bolsa Família; criar
o programa Bolsa Empresa, visando angariar apoio dos empresários; lutar por um
assento no Conselho de Segurança da ONU, visando projetar o Brasil no mundo;
dar emprego para os sindicalistas do país todo, muitos em pura sinecura,
visando acabar com eventual oposição sindical; dar reajustes ao funcionalismo
público federal, visando ter a máquina do estado a seu favor; expandir o número
de universidades, angariando-se, assim, apoio da intelectualidade; dar
aposentadoria para jogadores da seleção brasileira de futebol da Copa de 1970,
visando ganhar apoio dos desportistas...
Como se vê, embora resumidamente, o governo do PT foi muito
inteligente. Começava-se, assim, a construir a famosa hegemonia Gramsciana. Se
o projeto do PT era ficar mais vinte anos no poder, lá se vão doze anos com
direito a mais quatro anos.
Ao fenômeno utilizado pelo PT para permanecer no poder, dá-se
o nome de “gatopardismo”. Numa palavra, ‘muda-se tudo’ para não mudar nada. O importante para
o PT é estar no poder. Aos críticos desse projeto, os simpatizantes e
eleitores, que formam uma verdadeira patrulha dos “bons costumes” petistas, seja na imprensa
escrita, seja na internet, respondem que isso é a esquerda no poder, é o
partido no estilo progressista. Que não querem ver o país retornar ao
neoliberalismo, ao partido conservador, de elite, da elite branca. Palavras
estas que são eivadas de quase cem por cento da cartilha petista e quase zero por
cento de conhecimento de causa, de história...
Ante tanto barulho eleitoral, o que sobrou para os
vitoriosos? O grande historiador inglês Eric Hobsbawm, num artigo,
publicado pela Folha de S. Paulo em 12/11/90, sobre a queda do Muro de Berlim
em 1989, colocava como título: “1989, o que sobrou para os
vitoriosos”. Nesse artigo, analisava, ainda no calor da
derrocada do socialismo real, os aspectos nada vangloriosos para os que se
achavam vitoriosos. Em síntese apertada, dizia que somente os países ricos
podiam comemorar, mas, contudo, num curto espaço de tempo, tendo em vista o
recrudescimento social que adviria da “Queda do Muro de Berlim” em 1989.
Sobrou uma glória de estratégia vitoriosa para o PT e um
Estado depauperado para o povo brasileiro. Carcomido pela privatização, essa
sim, privatização dos cargos públicos pelo PT e seus aliados; um Estado sem
canais efetivos de oposição a ele, afinal o governo central conseguiu calar os
movimentos sociais através da oferta de polpudos salários nas estatais para as
suas lideranças, sufocando os canais de contestação da sociedade, e isso
engendrou resposta do movimento de contestação de junho/julho de 2013, que não
foi previsto pelo Governo Central devido a visão totalitária de Estado pelo
Palácio do Planalto; inflação em alta; poucos recursos para investimento do
Estado, haja vista o excesso de gastos públicos na manutenção do aparato
estatal; desconfiança do mercado; denúncias de corrupção por todos os lados;
ascensão da oposição; máquina pública inchada por empreguismo; o país sendo
chamado de anão diplomático por autoridade estrangeira; balança comercial
deficitária; produção industrial em queda.
Se a
campanha do PT pela reeleição foi um tudo ou nada, utilizando-se do terror; se
conseguiu majoritariamente o voto dos menos informados e o voto de cabresto; se
conseguiu esconder os problemas do país via controle da informação de dados;
foi então uma vitória do “status quo”, uma vitória conservadora, uma retumbante VITÓRIA DE PIRRO!
Luiz
Fernando da Silva
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