Aspectos
estruturais
Norberto Bobbio[1] apresenta outros fatores que contribuem para o descrédito da
democracia: a demora no atendimento das demandas da população (e isso quando
tais demandas são, de fato, atendidas); a continuação das oligarquias no poder;
o poder invisível; o poder da tecnocracia...Ora, sabemos que no autoritarismo,
como a demanda é reprimida, o atendimento às poucas demandas que surgem é
rápido, já que não depende de exaustivas discussões.
Segundo Bobbio[2], na questão sobre a qual a população participa do usufruto e não da
gerência da democracia é outro fator de apatia política. Ainda segundo ele, o
neocorporativismo reforça essa apatia política, ou seja, se os representantes
(capas pretas no jargão político e sindical) se articulam no poder (ainda que
sejam opostos, politicamente, entre si), a despeito da população, não há
motivos claros para me convencer de que minha participação valha à pena para
mudar um determinado estado de coisas.
Um aspecto que é discutido por Wanderley Guilherme
dos Santos[3] é sobre a representação dos partidos políticos como veículos dos anseios
da população.
Sobre a adequação dos partidos políticos na
transição e pós-transição dos regimes autoritários, Wanderley coloca que:
“...os partidos políticos tendem a desempenhar um papel eminentemente
estratégico: tanto favorecendo o parto de uma nova ordem pelo uso do monopólio
da representação política formal que detém e pelo reconhecimento de seu
declínio enquanto oligopólio de participação; ou dificultando a
transformação política pela pretensão de reter, juntamente com o monopólio da
participação. Nesse último caso, os partidos políticos latino-americanos
arriscam-se a erosão de sua legitimidade, fenômeno que afeta todos os sistemas
partidários ocidentais”.
O autor faz essas discussões em meados da década de
1980. Naquele momento, Wanderley coloca que a representação partidária, apesar
de sua histórica decadência, tinha um papel importante, já que estava em
transição um sistema autoritário para um sistema democrático. Mas a medida que
a liberalização avança, terá a representação partidária (política formal)
capacidade para se ajustar ou abarcar as novas demandas? O autor coloca que
“... a lei de ferro da oligarquia foi e é verdadeira em contextos nos quais o
oligopólio da oferta de participação puder ser mantido pelo sistema
partidário de representação”. Michels[4] me parece ser mais amplo, em seu conceito sobre a lei de ferro das
oligarquias políticas, quando coloca que há descolamento entre os interesses
dos dirigidos e os interesses das organizações (quando estas crescem em número
de adeptos e também em suas estruturas): “tanto o Estado democrático, um
partido político ou uma liga de resistência proletária...”
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