A
fórmula básica para evitar que elejamos candidatos corruptos a cargos públicos eletivos
é dada, de forma geral, como: eleitor, fique atento sobre o passado do seu
candidato, não aceite as maquiagens, coisas próprias de candidatos em disputas
eleitorais...
Ora,
não só a política, como qualquer outra atividade humana, são eivadas do poder
simbólico. A rigor, em termos ontológicos, qualquer atividade humana é
política. Na verdade, o “diabo” aparece sob várias roupagens. O discernimento
político não comporta apenas o decorar de certas regrinhas, já que elas
próprias mudam constantemente.
Em
que pese as constantes notícias de corrupção no poder público, não há dúvida
quanto ao nível das disputas eleitorais, que tem melhorado muito nos últimos
anos. Contudo, jamais deixaremos de ser vítimas das maquiagens eleitorais. O
que pode acontecer, na melhor das hipóteses, e que tem acontecido, é a melhora
no nível das maquiagens dos homens públicos.
O
sociólogo americano Irving Goffman colocou que o ser humano dramatiza
diuturnamente o seu cotidiano. Se existe uma autenticidade no ser humano, a
mesma é dada quando há pequenos descuidos. Ou seja, quando esquecemos o
“script” ou quando perdemos o autocontrole. Portanto, o espaço para manobras na
política é infinito.
Ao
longo da história, os casos de corrupções envolvendo os governos municipais,
estaduais e federais vêm demonstrar, seguindo as regrinhas de comportamento
político, que de duas, uma: ou o eleitor é muito burro ou os candidatos e,
hoje, vereadores, deputados, prefeitos, governadores e presidente da República,
são muito espertos. Vejo que nem uma e nem outra tem cabimento. Ambos,
eleitores e candidatos, são pessoas envolvidas na rede de relações sociais em
que a margem de manobra, dada pelo viés da realidade a que estamos submetidos,
propicia tal fato. As relações humanas, como já colocadas, estão inseridas numa
pré-relação em que o caráter confiança é uma condição fundamental. A antiga “pegadinha
do Faustão”, o programa “Chaves” e “Chapolim” demonstram o quanto as relações
humanas estão envoltas num simbolismo pré-concebido. Quando assistimos a tais
programas, ficamos atônitos com tanta “burrice”. Pois é.... são essas
“burrices” que fazemos cotidianamente, como autômatos, e sem perceber. Remédios
contra elas não existem. Fazem parte das petrificadas relações sociais
internalizadas por todos os seres humanos. Do contrário, ficaríamos loucos
totalmente se precisássemos raciocinar sobre cada ato que realizamos no nosso
cotidiano
O
candidato, quando em campanha, usa e abusa desse simbolismo.. A propósito,
Benito Mussolini ficava horas e horas em frente ao espelho treinando os
trejeitos que seriam aplicados mais tarde. O candidato, nesse sentido, precisa
apenas captar o que a multidão anseia. A multidão, por sua vez, como uma massa
levada por correntes de influência, anseia por certas respostas. A interação
entre ambos é apenas uma questão de competência dialógica. A “massa”, como
muitos colocam, é manobrável.
O
desenvolvimento do liberalismo trouxe até nós uma visão de mundo que está
alicerçada no individualismo. O grande problema é que a “cultura” do associativismo
não tem sido capaz de estancar o avanço do individualismo. O resultado é um
híbrido de associativismo e individualismo. Nessas condições, ao sujeito cabe
apenas a competência de utilizar ambas as visões de mundo como melhor lhe
aprouver.
Voltando
ao caso da corrupção governamental, não há como não ficarmos estarrecidos com a
relação promíscua entre o público e o privado. Maria Sylvia de Carvalho Franco, num magnífico trabalho denominado
“homens livres na ordem escravocrata” já colocava que no Brasil temos a maior
dificuldade em separar o público do privado. Esses senhores acusados de lesar o
erário público em proveito próprio se candidataram aos cargos públicos eletivos
com uma única finalidade: tirar o máximo proveito próprio. Contudo, quando candidatos,
pregavam o bem comum. Numa palavra, são verdadeiros artistas na tarefa de
misturar o individualismo manifesto com a pregação latente associativista. O
que está em jogo são centenas de milhares de reais que tomam caminho diferente
do devido. Mas... por que fazem isso?
O
caminho que os leva ao centro do poder político é dotado de toda uma
sistemática de compromissos. Ninguém se elege sem ter compromissos com grupos,
pessoas... Uma vez no poder, a primeira coisa é passar a saldar os compromissos
e, de quebra, fazer uma caixinha para a próxima campanha. Como a máquina
pública é extremamente complexa, ou seja, há repartições para tudo; como para
viver em sociedade é preciso ter confiança no outro, há todo um caminho
propício para prosperar a corrupção. A legislação também colabora: o crime de
“colarinho branco” ainda não começou a ser punido tal qual deveria. Resultado,
o crime acaba compensando, a despeito das frases moralistas.
Culpar
apenas os sujeitos envolvidos nessa trama, e muitas outras a que estamos
submetidos cotidianamente, é apenas uma forma de nos eximirmos do processo
social puro e simples. Esses sujeitos estão, também, envolvidos nas relações
sociais cristalizadas de uma nação em que a cidadania caminha lentamente. Eles
não são alienígenas de um planeta do mal. São oriundos de nosso meio social e,
todos nós, de uma forma ou de outra, temos uma parcela de culpa nessa orgia do
dinheiro público. Criticar os políticos como agentes do mal, usurpadores do
erário público, como enganadores... é apenas uma forma de ingenuidade ou um
simples desabafo... Numa palavra, desconhecimento das interações sociais reais.
Esses
sujeitos só agem assim porque os mecanismos de controle de nossa sociedade são
frouxos. É bem verdade que nos países considerados de primeiro mundo há,
também, corrupção. Entretanto, os mecanismos de controle nessas sociedades são
mais eficazes. Como exemplo, dentre outros, tivemos a prisão do megaespeculador
que quebrou o Banco Barings em 1997. No Brasil, os especuladores, que quebram
Banco, andam à solta, vide caso das quebras de Bancos, como o Econômico,
Nacional... Outro dia, num acinte ao nosso raciocínio, Sílvio Santos ficou
falido num dia devido à quebra do seu banco Panamericano e a penhora de seus bens
para garantia do rombo e rapidamente já tinha recuperado todo o seu patrimônio
penhorado. Parece conto de fadas, mas não o é... São caminhos tortuosos que a
política para banqueiros propicia. E, o pior, nenhum sindicato, jornal, enfatizou
devidamente esse fato escabroso do sistema financeiro brasileiro. O prejuízo de
mais de 2 bilhões de dólares foi “socializado”...
As
mudanças sociais em “condições consideradas normais de temperatura e pressão”
são lentas. O problema é que, dada o pouco tempo de vida do ser humano em
relação à possibilidade de ver a cristalização das mudanças sociais, há uma
pressa, às vezes, descomedida em relação à exigência de mudanças sociais. Esse
fator de lentidão se dá, entre outras coisas, para que consigamos internalizar
os novos códigos sociais.
Se
existe uma máfia de homens públicos que procuram criar dificuldades para o
cidadão para, posteriormente, vender facilidades, se o “hobbesianismo social”,
segundo Wanderley Guilherme dos Santos, é uma característica, no aspecto geral,
de nossa sociedade, a única saída é o constante trabalho em prol da inserção
dos aspectos ligados à cidadania no nosso cotidiano. O resto é discurso de
salvador da pátria, de ditador de plantão ou de milenarista.
Luiz Fernando da Silva
Prezado Luiz Fernando,
ResponderExcluirClaro,lúcido e atemporal seu texto.
Penso que nosso pais é um caldeirão de experimentações, com regiões desenvolvidas, comparada a países europeus e regiões de extrema pobreza, comparadas a africa sub saariana.
Com relação as questões sociais, politicas, vale lembrar que somos um pais jovem, com pouco mais de quinhentos anos, portanto cabe otimismo.
Ascânio,
ResponderExcluirObrigado pelas considerações. Esse descompasso social em nosso país, a que você se referiu, é algo ruim. Contudo, é bom do ponto de vista de que temos ainda lugar para aplicar políticas desenvolvimentistas. Numa crise do capital internacional, o Brasil tem locais para se desenvolver e tentar abrandar a recessão. Já nos países já desenvolvidos, essa possibilidade é mais remota. Sobre sermos um país jovem, os EUA, a Austrália, o Canadá também são jovens. Embora competentes no sentido de assegurar o grande território brasileiro, a política da Corte Portuguesa deixou-nos bem atrasados. Veja o caso da Inglaterra: já em 1688, com a solidificação do Parlamento, houve um tolhimento da liberdade do Rei em gastar quanto quisesse, em impor sobre a sociedade inglesa a sua idiossincrasia. Enquanto isso, em Portugal, a Corte aprovava novas formas de impostos para custear o estilo perdulário do Reino. Parecem simples, mas essas foram umas das causas de nosso descalabro governamental. Veja que nosso Parlamento é sempre subserviente ao Executivo. Uma cultura que nos faz esperar sempre que o governo resolva nossas vicissitudes.
Luiz Fernando.
ResponderExcluirVenho de uma formação tecnicista, pragmática e objetiva.
Assim como você, tive oportunidade de desde muito cedo, via Instituto Agronômico de Campinas, conhecer e montar experimentos em varias regiões do país,para se ter uma ideia, em um único ano, rodei 110.000 kms em diferentes regiões do pais, dando oportunidade de conhecer e lidar com diferentes realidades, desde os Sem Terra em Sandovalina até as multinacionais do centro empresarial de São Paulo.
Pois bem, o que isso resultou, em um profissional novo do ponto de vista da idade e considerado "Experimentado" do ponto de vista da diversidade, ou seja, se torna uma especialista em generalidades.
Porque estou relatando isso, correndo o risco de fugir da proposta do texto, quero trazer a luz uma proposta de equilíbrio, pois em função diferentes experiência, cheguei a conclusão de que " A solução dos nossos problemas esta onde a gente esta".
Trazendo a prosa para nossa realidade local, que com certeza você deve ter opinião formada.
O local onde moramos, trabalhamos, vivemos, a meu ver é um dos melhores do pais que se tem para viver.
Porque penso isso,é o melhor IDH da região,temperatura media anual de 23,5°, conforto térmico inigualável.
Distribuição de renda relativamente igualitária, não se vê crianças pedindo R$ para comprar um lanche, distribuição fundiária, 80% das propriedade de 0 a 20 hectares, conferindo auto emprego a todos, uma população rururbano.
Diversidade das atividades, contribuindo para o equilíbrio financeiro e consequentemente social.
Do ponto de vista macro, somos pouco ou quase nada, do ponto de vista da qualidade de vida, dos valores que entendemos válidos, parece-me razoável.
Como relação aos poderes constituídos, bem, cada caso é um caso, mas via de regra, o executivo, sempre esteve com as chaves do cofre, portanto, num espaço capitalista, não precisa dizer mais nada.
Ascânio,
ResponderExcluirperfeito. Eu, embora goste muito de macro análise. Sou também adepto de micro análise como visão de mundo. De nada adianta ver o mundo só via análises gerais. Isto fará com que o sujeito analista torne-se um nefelibata. Vejo sempre como ideal as análises que partem do geral para o particular e deste para o geral. Se isto não for possível, é porque há incongruências no raciocínio do analista. rsrsrs