Analistas dos costumes
e dos comportamentos atuais, como o sociólogo polonês Zigmund Bauman, apontam para
um fenômeno curioso sobre as tecnologias hodiernas de comunicação,
especialmente sobre a internet. Segundo eles, os meios atuais de conexão entre
as pessoas propiciam a elas estarem próximas de muitas outras pessoas. É
possível, por exemplo, nas redes sociais, o estabelecimento de contato com
pessoas que estão muito longe geograficamente, até com aquelas que estão em outros
países. Quase todo mundo tem um computador com internet em casa, e é coisa
rara, indício inclusive de perturbação mental, dizem os mais afoitos, a pessoa
não ter email, facebook, skype e tantos outros por aí. Há ainda os iphones, ipads e androids da vida. Estes
conferem mobilidade e versatilidade à conectividade.
Numa mesa de bar, numa
reunião de amigos, num almoço em família, nas salas de espera e até nas salas
de aula estão lá os plugados no mundo virtual (aqui, só pra não deixar passar a
oportunidade, abramos este parêntese e digamos de passagem: como é chato e
desagradável numa reuniãozinha de amigos, num bar, por exemplo, uma pessoa que
está agarrada a um celular e não pára de olhar para ele e não pára de teclar e
tira foto o tempo todo para postar no face). Ó céus! Pior ainda é quando ela
fica chamando outras pessoas para virem participar do evento e passa o tempo
todo assim. Para dizer o mínimo, acho uma atitude brega. Mas... paciência é o
que resta numa hora dessas. Enfim, vivemos na era da comunicação. Estamos
conectados quase o tempo todo.
Só que, de acordo com
esses mesmos analistas - e aí reside o fato curioso que eles apontam, mesmo tão
próximas, as pessoas estão cada vez mais isoladas. Como se vivessem em ilhas
virtuais. O que se verifica é que a virtualização das relações, curiosamente,
gera distância entre as pessoas. A regra é mais ou menos esta: quanto mais
conectadas, mais encapsuladas e mais distantes as pessoas ficam umas das outras.
A internet tem o poder
sim de conectar milhões de pessoas sem precisar do encontro físico e material
entre elas. Só que, exatamente por isso, a realidade concreta torna-se
prescindível, ela pode ser dispensada. Uma realidade virtual passa a vigorar
nesse contexto. Esse mundo virtual trouxe um novo modo de relação entre as
pessoas, marcado pelo fechamento sobre si mesmo e pela perda da necessidade do
contato real, concreto entre os seres humanos. Tal situação de distanciamento
entre as pessoas tem por consequência sentimentos de isolamento e solidão. Crescem
os índices de depressão, transtornos de ansiedade e outras patologias do
espírito. Fenômeno curioso mesmo esse. Curioso e complexo. Por isso, deixemo-lo
para futuras elucubrações. Falei sobre ele a fim de dizer que, como em tudo na
vida, nada é totalmente bom nem totalmente ruim.
A internet, com
certeza, tem lá seus lados obscuros e perniciosos. No entanto, nela podemos
encontrar coisas muito boas. Como exemplo disso - bajulação à parte - tomo a
iniciativa do meu querido amigo Luiz Fernando em criar este espaço de
veiculação de ideias. Sei de sua inquietação intelectual e também da sua ânsia
pelo debate e pela troca de ideias, o que o legitima para ser o autor deste
blog.
Se vivemos numa época
de esvaziamento das relações entre as pessoas, vivemos também numa época
marcada pela futilidade. É comum encontrarmos por aí, com destaque para as
redes sociais, pessoas que levam suas vidas numa monotonia bovina, em cujas
cabeças há muito não entra uma ideia nova e de cujas bocas só saem obviedades
papagaísticas. Coisa triste. Quando não refletimos sobre a nossa condição e
situação no mundo, outros irão fazer isso por nós. É batata! Irão mesmo! Aí, já
conhecemos mais ou menos no que isso pode dar: expedientes fraudulentos,
corrupção, farra com o dinheiro dos pesados impostos que pagamos,
autoritarismos, desmandos e uma série de outras coisas do gênero. Sem falar nas
besteiras que vamos fazendo ao longo da vida quando são os outros que pensam
por nós, quando são os outros que nos governam e ditam inclusive as regras da
nossa subjetividade. Geralmente pagamos um preço bem alto por delegarmos o
pensamento a terceiros. É triste, mas acontece. E como! Por isso, seja
bem-vindo este blog. Que ele possa ser um espaço de autonomia, porque somente
quando pensamos é que somos autônomos.
JOÃO PAULO BRAGA FLORIANO
Psicólogo
Grande adepto da inquietude mundana! Seja bem-vindo ao nosso Blog. Achei pertinente as suas colocações a cerca do mundo virtual. Há uma reificação da rede virtual. E, decorrentes disso, as pessoas estão "emburrecendo". O que é, em última análise, algo muito paradoxal. Afinal, o excesso de informação e acessibilidade é bom ou é ruim? E você, de forma clara, nos propõe essa reflexão. Parabéns!
ResponderExcluirAntes tínhamos a família sentada a mesa e discutindo muito sobre relacionamento...
ResponderExcluirDepois tínhamos a família sentada a mesa ouvindo o rádio e discutindo pouco sobre relacionamento...
Há bem pouco tempo atrás, tínhamos a família sentada a mesa vendo TV e discutindo quase nada sobre relacionamento...
Hoje, com o advento da internet, temos todo mundo falando sobre relacionamento sem saber o que é verdadeiramente uma relação com o próximo.
Abs,
Véio, foi isso que disse ao meu amigo e autor deste artigo. O cantor uruguaio disse isso no Programa do Jô: a internet aproxima os que estão longe e distancia os que estão perto. Hoje, há família que se comunica dentro da própria casa via rede virtual. Coisa de doido... rsrsr. Abraços
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