terça-feira, 6 de agosto de 2013

ECONOMIA, POLÍTICA E SIMBOLOGIA




                         A economia, enquanto uma disciplina universitária, insere-se num contexto tênue entre a área de humanas e a área de exatas. Para a maioria dos economistas, trata-se de uma disciplina que tem muito mais charme que as que estão estritamente no contexto de humanas. A propósito, o eminente filósofo Karl Marx colocava  a economia como a base da sociedade humana. Em outras palavras, para mudar uma dada sociedade era preciso primeiro mudar a sua base econômica. Entretanto, essa não é a realidade nessa disciplina, já que a mesma trabalha com expectativas sociais. Outro eminente filósofo chamado Max Weber pregava uma forma diferente de ver a sociedade. Para ele, a economia pode ser tão importante quanto as outras esferas eletivas de uma dada sociedade. Numa palavra, dentre as várias esferas eletivas como a religião, o militarismo, a política...  a economia poderia, casualmente, ser a mais importante.
                           Passaram mais de cem anos e, ainda hoje, deparamo-nos com essa emblemática questão. Afinal, a economia é ou não é a base da sociedade humana? Para responder a essa questão, apoiar-me-ei em R. Collins, um sociólogo americano que tem um trabalho muito interessante chamado “Os Fundamentos Não-racionais da Racionalidade”. Nesse trabalho, o autor coloca que na verdade existe na sociedade humana um aspecto denominado de pré-contrato. Em outros termos, toda vez que interagimos com os outros seres humanos, não está explícito um contrato nos moldes capitalistas. Existe, de antemão, uma relação de confiança. Como exemplo e de forma geral, quando vamos a um restaurante e pedimos uma refeição não existe o pagamento antecipado por esse serviço. O proprietário do estabelecimento dá-nos um voto de confiança, ou seja, há uma expectativa de que receberá pelo serviço prestado. Esse aspecto é chamado por Collins como um pré-contrato. Numa palavra, há uma espécie de irracionalidade no que, no capitalismo, é considerado como racionalidade. A meu ver, fazendo uma inferência, talvez haja uma semelhança com o que Marx chamava de relações pré-capitalistas. Collins vai mais longe: seria impossível haver sociedade se agíssemos somente racionalmente.
                      Outro pensador contemporâneo, o grande Norberto Bobbio, filósofo, que foi senador vitalício italiano, coloca que, no caso da democracia, existe uma tarefa não cumprida: a necessidade de se tomar medidas econômicas com a participação dos cidadãos. Para tanto, o governante não pode, primeiramente, avisar os seus súditos de que no outro dia vai tomar várias medidas econômicas que afetarão as suas vidas. Se fizer isso, simplesmente o seu plano não funcionará. Na verdade, aí reside um fator preponderante de sobrevivência política envolta por um simbolismo “prático”. A necessidade de se trabalhar com as expectativas da população em prol de medidas, muitas vezes, amargas, mas que, no frigir dos ovos, pelos menos em tese, o governante tem como meta a governabilidade e, por consequência, a melhoria das condições de vida da população.
                            É nesse sentido que o ex-presidente FHC, quando colocou um “expert” em economia, como presidente do Banco Central do Brasil, tinha como intuito, pelo menos a meu ver, de estancar a falta de crédito do mundo em relação ao Brasil, no auge da crise econômica dos anos 90. Para muitos, tratava-se de colocar uma raposa no galinheiro. Afinal, o sr. Armínio Fraga era um auxiliar do mega-investidor/especulador Georges Soros. Mas o que estava em jogo não eram apenas números e sim uma questão de pré-contrato, que seria consubstanciado em futuros contratos. O ex-presidente Lula fez a mesma coisa ao colocar o deputado federal eleito pelo PSDB, Henrique Meirelles, que fora presidente do Bank of Boston, como presidente do Banco Central do Brasil. É uma questão de confiança. E isto é algo do simbolismo.
                              Passado o pior, o mundo se rendeu ao sr. Armínio Fraga. Para muitos jornais, ele era um super economista. Talvez o melhor do mundo. Modesto, o Sr. Armínio colocou que apenas teria usado do bom senso. Ora, na verdade, o presidente do Banco Central apenas escondeu o jogo ao não explicitar, ainda que com poucas palavras, a estratégia do governo de colocá-lo lá. O termo bom senso é tão amplo que todos nós julgamos tê-lo. É como uma espécie de panaceia. Serve para todas as situações. Se o segredo é a arma do bom negócio, o sr. Armínio estava com toda razão ao fingir-se de modesto. O mesmo ocorreu com o Sr. Henrique Meirelles. Muito tranquilo e sabedor das dificuldades em trabalhar num governo eivado de ranço contra o capitalismo, geriu o Banco Central, de tal forma competente, que nem parecia estar num governo desacreditado pelo financeiro internacional nos primeiros meses de atuação.
                        Aqui, fica evidenciado o poder do simbolismo no que tange uma área em que os economistas estrangeiros, egressos da Universidade de Chicago (EUA), considerada a meca da economia e, principalmente, do monetarismo, não reconhecem. Numa palavra, tentam colocar nos seus países de origem, principalmente como cobaia, aspectos puramente monetaristas.
                     É nessa seara permeada pelo simbolismo que uma disciplina como a antropologia, considerada nos anos 60 como coisa de pessoa frívola, começa a ganhar adeptos. Isso tem se dado porque numa sociedade complexa não existe espaço para fórmulas mágicas, acabadas, que não necessitam de aprofundamento nas questões específicas de cada realidade cotidiana.
                              A antropologia trabalha fundamentalmente o universo simbólico de uma dada sociedade. Nesse sentido, capta como aspectos fundamentais da sociedade humana aquilo que era considerada como coisas banais, desprovidas de valor, caso houvesse uma revolução a partir da base econômica.
                         Como a sociedade humana não vive sem esse simbolismo até porque, como colocou Baruch Spinoza, filósofo holandês, todo ser humano tem a sua fragilidade, o desprezar do simbolismo fez com que várias iniciativas baseadas na realidade somente “concreta” se esvaíssem. A bem da verdade, o simples fato de acreditar na possibilidade de uma realidade concreta já é uma espécie de pré-contrato permeada pelo simbolismo, ou seja, se acredito num projeto é porque um contrato existirá a posteriori. Entretanto, nada garante que esse projeto, uma vez concretizado em contrato, seja de acordo com o crédito dado a ele.


LUIZ FERNANDO DA SILVA

2 comentários:

  1. Olá primo Fernando. Apesar de não ter familiaridade com os temas do blog, gosto de novidades e já sou mais um dos seguidores. Parabens pelo blog. Abraços.

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  2. Grande Primo Toninho! Obrigado. O Blog ainda está sendo construído. Assim, entrarei, juntamente com colegas e amigos colaboradores, em temas que nos afligem cotidianamente. Abraços

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